Quem quer que se proponha observar a realidade social começa por se encontrar perante uma série infinita de actos realizados por um grande número de indivíduos, isto é, acontecimentos que ocorrem, no tempo e no espaço, de modo irreversível: uma vez realizados, tais actos deixam de poder ser considerados como não tendo ocorrido. Tendemos imediatamente a interpretar esses actos, relacionando-os com significados que nos são familiares: se, de manhã, um grande número de indivíduos sai para a rua num dia útil, pensamos que se estão a dirigir para os seus locais de trabalho; se constatamos que certos indivíduos estão vestidos de uma certa maneira, estabelecemos uma relação entre esse facto e a sua profissão, a moda, a temperatura, etc. Todavia, nem sempre os comportamentos por nós observados são facilmente compreensíveis: poder-se-á tratar de actos individuais que só possam ser compreendidos em função dos motivos particulares que movem os próprios indivíduos e não se revelem imediatamente evidentes, como é o caso de alguém que seja movido por ideais religiosos que não partilhamos, por tradições culturais por nós ignoradas, por paixões e emoções que nos são estranhas, e assim sucessivamente. O problema complica-se ulteriormente se, de um mundo que nos é familiar, passamos a um mundo que nos é desconhecido: é esta, por exemplo, a situação normal na qual vem a encontrar-se o etnólogo ou o antropólogo cultural quando se propõem observar a vida social de populações ditas «primitivas», em tudo diferentes daquela à qual eles pertencem por nascimento.
Copyright © 2024 CliqueApostilas | Todos os direitos reservados.