Esse artigo versa sobre a elaboração e implementação de políticas públicas de saúde reprodutiva direcionadas para grupos populares. Ele parte de uma pesquisa qualitativa que vem sendo realizada desde 2007 na cidade de Porto Alegre sobre o Programa de disponibilização de implantes contraceptivos hormonais da Prefeitura Municipal. São analisados dados oriundos de entrevistas com gestores públicos e profissionais de saúde e documentos públicos relacionados ao Programa “Adolescência: Um Projeto de Vida”, bem como as controvérsias por ele suscitadas junto às instâncias de controle social. O artigo consiste na descrição dos atores e das agências políticas mobilizadas desde a elaboração do Projeto por uma entidade da sociedade civil organizada, passando pelos debates com ativistas do Movimento Feminista e com o Conselho Municipal de Saúde, chegando até a prática de disponibilização dos implantes pela rede pública de saúde. Foram distribuídos às Unidades de Saúde 2500 implantes, sendo o maior número de aplicações num bairro de classe popular da cidade de Porto Alegre, a Restinga. Com a quase totalidade já aplicada, atualmente, a Prefeitura busca novas estratégias de continuidade e expansão do Programa. O foco da análise está na operacionalidade do discurso de gênero como uma linguagem política eficaz, à medida que é acionada pelos diferentes atores envolvidos nas disputas e controvérsias suscitadas pelo Programa e pela discussão mais ampla sobre direitos sexuais e reprodutivos. Esse discurso é acionado de diferentes maneiras, comportando conteúdos e preocupações sociais distintas. Busca-se com essa reflexão evidenciar a complexidade e as dinâmicas sociais envolvidas nas políticas públicas de saúde locais, no que tange a sua articulação com discursos globais como o da modernização da sociedade e dos direitos reprodutivos como direitos humanos.
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