Após vinte anos de hegemonia neoliberal depois da queda do muro de Berlim, a sociedade contemporânea confrontou-se com uma violenta crise da economia mundial que veio pôr em causa o modelo a que ironicamente Adriano Moreira chamou teologia de mercado. O crepúsculo desta nova dogmática e o clima de instabilidade económica que gerou foi apenas a ponta do iceberg, sendo inúmeros, os indicadores de desconfiança nas instituições e nas pessoas que integram o nosso quotidiano. Nesta sociedade caracterizada pela anomia, resultante de um processo de mudança em aceleração crescente desde há cerca de cinquenta anos, por uma desigualdade social agravada nos últimos vinte anos, e pela fibrilhação dos instrumentos de regulação política, as instituições políticas e os seus titulares encontram-se sob o fogo cruzado de cidadãos e mass media, acusados de ineficiência, ineficácia e corrupção. Para além de não resolver os problemas de coesão social e de orientação colectiva, esta atitude usual de criação de bodes expiatórios parece esconder a parte de responsabilidade que cabe à sociedade civil, vista como um conjunto de cidadãos mais ou menos organizados.
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