Este trabalho é parte de um estudo etnográfico sobre as músicas populares do arquipélago de Cabo Verde. A investigação tem como objeto experiências concretas de defrontar-se com a música e os sentidos atribuídos a estas vivências pelos sujeitos envolvidos. Aborda não apenas o processo cognitivo de reflexão sobre a experiência, mas também a volição e a emoção envolvidas no ato, tomando o ser humano como sujeito que percebe, pensa, sente e deseja. O recorte recai, mais especificamente, sobre um estilo musical que, ao lado de outros tantos, compõe o rico repertório musical produzido pela sociedade cabo-verdiana: as mornas. Tal gênero musical é vivenciado em diversos espaços e situações. O foco da análise empreendida é um tipo de evento em especial, chamado de tokatina e caracterizado, entre outras coisas, por ser uma manifestação musical “espontânea”, fundada (ao menos idealmente) na vontade do sujeito. São reuniões que tomam lugar em bares ou nas ruas dos subúrbios dos aglomerados urbanos, onde o violão ganha destaque. Nesses eventos, a música é um meio de se divertir, colocando em relação pessoas de variadas idades, sobretudo homens. As tokatinas permitem uma vivência muito especial, capaz de gerar sentimentos e valores que são centrais para certas concepções de ser cabo-verdiano e, em particular, de ser um nativo da ilha de São Vicente. A carga emotiva de tais eventos e sua expressão pelos sujeitos envolvidos nos atos de música são tomadas neste trabalho como caminho privilegiado para a apreensão do sentido dessas experiências e de sua importância na construção de projetos de pertencimento.
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