Este artigo faz uma leitura poético-musical do poema narrativo orquestrado Fantasia leiga para um rio seco, de Elomar Figueira Mello. Musicalmente, analisa os cantos que o compõem com seqüências narrativomusicais da saga do catingueiro retirante em sua trágica caminhada para para a morte sabida, avaliando os recursos de instrumentação, voz, ritmo e melodia como responsáveis pela dramaticidade da composição. Literariamente, examina, de um lado, a organização métrica e sonora dos versos como procedimento que, em perfeita consonância com a música, instaura o veio dramático na letra, e a linguagem imagística em alguns deles como elemento que confere poeticidade ao texto; de outro, aponta para a leitura que faz da tradição oral sertaneja — ao recuperar a seca do Noventinha — e da tradição religiosa — ao apropriar-se do texto bíblico —, as duas vertentes que inspiram o imaginário do poema. Fantasia conjuga estética e semanticamente música e poesia, articula o diálogo entre o velho e o novo, entre o sagrado e o profano e opera, via expedientes literários e musicais, a passagem do estrito viés da música regional para a dimensão universal.
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