Timor declara-se maioritariamente católico. O número de pessoas que é considerado sarani1 soma 96,9% da população conforme dados do censo de 2010. Esta foi uma das premissas com as quais cheguei a Timor-Leste e que me fazia crer —quando iniciava o meu trabalho de campo em 2007— que seria um elemento que facilitaria a compreensão cultural do país devido à minha própria educação de raiz católica. Estava enganado, pois havia determinados aspectos do catolicismo que se praticava em Timor que não coincidiam com a religião que eu conhecia, na minha condição de homem nascido na periferia de uma cidade industrial em crise do noroeste da península ibérica e socializado na doutrina católica por um ‘sacerdote operário’ durante os anos oitenta e noventa. O contexto histórico do Timor-Leste a que chegava não era, claro está, o mesmo que o espanhol de que saía. Há cinco anos que as Nações Unidas tinham devolvido a soberania ao Estado e a Igreja saía do desempenho de um papel fundamental durante a resistência contra a ocupação Indonésia. A legitimidade moral que a Igreja e os religiosos detinham era reconhecida por uma grande maioria da população. Em 2005, antes da minha chegada a Timor-Leste, a Igreja tinha efectuado uma demonstração do seu poder quando se tratou de dirigir as políticas de estado. Os factos começaram quando o governo tentou converter em optativa a disciplina de religião no ensino primário, o que levou a igreja a opor-se oficialmente e a organizar uma manifestação de dezanove dias à volta do Palácio do Governo na capital, Dili. O governo cedeu face à pressão da igreja que, amplamente secundada pela população, conseguiu manter a obrigatoriedade do ensino da religião.2
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