PAULA- Quem tivera aquela paixão de arte que o domina, aquele entusiasmo pela beleza ideal desse mundo de ficções que se criou e em que vive; aquela cegueira ditosa que lhe não deixa ver a miserável realidade que o cerca! Meu pobre pai, como ele vive enganado! Inda bem. — Cuida que o avaliam, que o entendem. As sublimes criações do seu engenho, as graciosas pinturas de seu estilo, aplaudem-nas. Como, porquê? — Porque é moda, porque os fazem rir às vezes. Sem o salvo-conduto de bobo e chocarreiro, morria de fome o grande poeta. — Não o conhecerá ele? Às vezes desconfio que sim: quer-me parecer que de propósito busca iludir-se, e foge da realidade porque a teme. — Assim fizera essoutro infeliz, essoutro espírito elevado que de suas imaginações tão altas aí se despenhou agora. — Que duas almas tão semelhantes e tão diversas!
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