É calmo e é o fundo de minha mente. Na verdade estava sozinho em meu apartamento concertando o meu violão. Juntando os cacos de uma briga ainda quente. A rapidez com que tudo aconteceu me fez deslocar-me no tempo. Isso parece estranho de ouvir, mas é a única maneira que eu tenho de explicar. No fundo de minha mente existe esse segredo que se abriu no momento em que eu quebrei o meu violão na briga que eu tive com Marisa. E escapou. Tudo como num jorro de vômito. Acelerei no tempo e fui parar vinte anos depois. É um túnel colorido que se parte em dois e se estreita, virando um vórtice. Marisa, minha querida, viu só o que você fez? Fui ao espelho do apartamento que estava bem desgastado. Todo o apartamento estava mais estranho e enigmático. Alguns quadros fora do lugar, uns desenhos bizarros nas paredes. O espelho refletiu a minha face, estava mudado, mais magro. Os cabelos grisalhos predominavam, mas não havia sinal de calvície. Escovei os dentes, estavam amarelos. Tomei um banho. Fui ao telefone e comecei a contatar alguns velhos amigos e dizer coisas do tipo: “Puxa já faz vinte anos”, ou, “e a vida, o que faz da vida?”, ou ainda, “sabe o que foi, é que eu acelerei o tempo e avancei vinte anos”. Descobri que Anchieta, um grande amigo, tinha morrido. Um cigarro a Anchieta!
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