Aliteratura tem sido, na vida cultural brasileira, um elemento importante para a configuração identitária de setores das elites. Sabedores da força da palavra, tendo consciência de que a cultura letrada desenha perfis e normas comportamentais e interage com as culturas populares, intelectuais do século XIX fizeram da literatura veículo de construção e transmissão de idéias e valores que compuseram os discursos oficiais sobre o Brasil. O imperador Pedro II, intelectuais como Gonçalves de Magalhães, Alencar, Machado de Assis, Joaquim Nabuco desejaram fazer dos textos literários pilares institucionais da nacionalidade, por vezes sugerindo modelos de heróis ou apontando vilões, outras, propondo especificidades no uso brasileiro da língua portuguesa, ou através da exaltação de elementos da terra brasileira, ou ainda nas tentativas de inserção de seus textos e rostos na tradição escrita ocidental, esmaecendo o papel dos grupos étnicos desprestigiados por esta tradição. Os romances românticos, em suas versões regionais ou urbanas podem ser vistos como exemplos do impulso didático-pedagógico que norteava os projetos literários dos escritores brasileiro que publicavam na primeira parte do século XIX. Aliás, a definição do Brasil e da brasilidade torna-se insistentemente presente na agenda de pensadores e escritores brasileiro desde que Denis1 Garret2 , no século XIX, sugeriram o abrasileiramento das letras nacionais. Para compor seus discursos de comunidade imaginada, políticos e intelectuais elegeram o que/quem realçar e o que/quem esmaecer, ou mesmo esquecer, nas performances discursivas que encenaram. Por outro lado, vale ressaltar que além dos objetivos já referidos, a autoria de discursos históricos, políticos ou literários fornecia ao indivíduo a possibilidade de desfrutar de privilégios - desde a época, restritos aos poucos que possuíam habilidades de ler e escrever e principalmente de publicar.
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