A emergência dos estudos culturais no cenário acadêmico provocou mudanças significativas nos enfoques e conceitos até então entendidos como exclusivamente literários. Na esteira do debate envolvendo os estudos literários e os culturais, o questionamento do cânone literário tem sido um dos principais indicadores dessas mudanças. Os estudos culturais têm postulado uma crítica da representatividade do cânone enquanto fator de exclusão, ou seja, de Homero a Joyce, o cânone privilegia um padrão eurocentrico composto por uma maioria de escritores mortos, brancos e homens. Esse padrão, ao ser endossado e perpetuado, discrimina e alija a produção literária que opera fora dessas premissas. A onda crítica em relação ao cânone desdobrou-se em uma defesa de seu status quo — como por exemplo Harold Bloom em O Cânone Ocidental — e em uma demanda por sua “abertura”, postulada por grupos considerados marginais, como mulheres, negros, homossexuais, ex-colonizados, etc. Toda essa problemática está inserida em uma questão maior, que envolve o status da literatura, ou melhor, dos estudos literários em relação aos propósitos dos estudos culturais. Esse embate tem mostrado que a existência de posições antagônicas é inevitável; em relação ao cânone, porém, elas podem ser reavaliadas à medida que o processo de valorização da obra literária é melhor apreendido.
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