A língua em uso numa sociedade é produto de uma cultura e reflete o pensamento de um povo. Desse modo, as unidades léxicas, por meio dos significados atribuídos por um grupo social, determinam um olhar específico do universo e um sistema de valores. Com esse embasamento, nosso trabalho centra sua atenção num tipo de item lexical específico: as unidades lexicais que nominam os órgãos referentes às zonas erógenas, dos quais destacamos o pênis, a vulva, as nádegas, o ânus, os testículos e os seios, em língua italiana e em língua portuguesa, variante brasileira, partindo da análise do corpus coletado. Intencionamos demonstrar que para a denominação dos órgãos sexuais do corpo humano tende-se a evitar a terminologia anatômica oficial – relegada a contextos de grande formalidade – e adotar outros itens lexicais em situações informais, que possam denominar as referidas partes do corpo com conotação sexual. Muitas das lexias recolhidas não são aceitas em todos os contextos, mas entre pessoas afeiçoadas, encontra-se um emprego mais intenso e que assinala intimidade. Por essa razão usam-se inúmeros sinônimos que servem para suavizar uma determinada unidade lexical, na tentativa de mascarar preconceitos sociais historicamente construídos. Principiamos nossa pesquisa examinando os referidos itens lexicais sob a luz da teoria da metáfora conceitual – pois muitos dos itens empregados têm base metafórica e, na maioria das vezes, eufemística. O produto de nossa pesquisa é a amostragem de um dicionário onomasiológico especial bilíngue, abrangendo o mencionado tipo de unidade lexical estudado. Apresentamos, ainda, dentro dos verbetes quais são os semas (unidades mínimas de significação) presentes nas principais metáforas relativas aos mencionados órgãos. O acréscimo destes se mostra uma inovação em meio ao argumento erótico-obsceno, praticamente inexplorado pelos linguistas. Almeja-se com esta pesquisa poder colaborar para desmistificar alguns preconceitos relacionados ao léxico erótico-obsceno, seu uso e sua criação e estimular reflexões sobre o mesmo, cujo exame das metáforas e dos eufemismos que atuam sobre ele nos permite confirmar a riqueza linguística das línguas, demonstrando qual é o seu posicionamento diante da “linguagem proibida”, tão habitual, porém muito desprestigiada.
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