Sabe-se o quanto certas tradições são simplesmente inventadas, como já pôde assinalar Hobsbawm (1997) em um estudo clássico. São essas tradições, construídas e legitimadas mediante processos políticos, que incidem e dão sentido à formação das nações, como comunidades imaginadas, na forma como analisou Benedict Anderson (1991). Parte do que hoje compõe o repertório das chamadas tradições culturais no Brasil não é necessariamente genuína, mas foi ganhando significação como representativa de uma brasilidade à medida que esferas oficiais da cultura a reconheceram como expressivas de uma idéia de nação. Ainda assim, persistem nos debates sobre identidade cultural matizes preservacionistas que acreditam existir núcleos originários da cultura, ainda que esta seja reconhecidamente um resultado nem sempre unívoco de processos de reapropriação e reinvenção das tradições (Leite, 2000). Deixando de lado o discurso fatalista do desaparecimento inevitável do artesanato, que entende se tratar apenas de uma técnica pré-industrial de produção de manufaturas orientada à extinção, haveria pelo menos dois grandes eixos a ser explorado: 1) o que entende ser o artesanato uma arte de fazer tradicional que deve ser preservada mediante a manutenção dos lastros sociais nos quais são produzidos; e 2) o que defende certas inovações estéticas na produção artesanal como meio de inseri-lo no mercado e assegurar sua reprodutibilidade, ainda que em um estado alterado da tradição.
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