Ao contrário do senso comum que considera a cultura popular como uma expressão espontânea do povo engessada no passado, nós a entendemos, assim como Canclini (1983), que seja a manifestação de uma camada social cujo acesso aos bens econômicos e culturais é desigual, isso comparado às classes favorecidas. Tanto a arte, ou seja, “arte popular” como também o artesanato pode ser enquadrado nessa realidade, pois são, normalmente, resultantes das práticas materiais tidas como populares, embora conservem, sobretudo, no processo de criação características que as tornam diferentes. No entanto, não é raro encontrarmos situações em que essas duas maneiras de experimentação estética são colocadas como iguais. Nessa perspectiva, concentraremos nossos esforços em desmistificar tal pensamento fazendo uma reflexão sobre os conceitos relacionados a tais processos culturais. Souza Barros (1979) cita Schuwer, o qual mostra a inexistência da separação entre a arte em geral e o artesanato, entretanto fixa uma observação para o fato de que se faz imprescindível examinar os modelos de peças feitas até a sua exaustão contrastando-as com aquelas provenientes de um esforço de criação e aprimoramento. Mello (2004) confirma a dificuldade em dicotomizar tais práticas, mas chama a nossa atenção para o fato de que o artesanato caracterizar-se pela repetitividade que impõe as suas peças (exercício manual de caráter industrial). Além disso, essa produção utiliza mão de obra abundante, podendo, inclusive, absorver profissionais excluídos do mercado de trabalho formal. “Dir-se-ia que no artesanato interessa acima de tudo, a comercialização; na arte popular estaria presente, sobretudo, o poder e força do senso estético e criativo” (MELLO, 1987, p.512). O artesanato se distingue da arte, não por causa de quaisquer efeitos visuais presentes nos objetos, mas pelas peculiaridades imanentes ao processo de concepção da peça. Em suma, tomaremos como referencial para concluir essa discussão o paralelo traçado por Barroso Neto (2004) acerca da arte popular e artesanato. Enquanto o primeiro é único, temático e fruto de uma produção individual cuja autoria reclama um nome (Mestre Vitalino, por exemplo) o segundo consiste numa produção seriada de peças semelhantes que são resultantes, normalmente, de uma prática coletiva (os Oleiros de Maragogipinho).
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