O artesanato no Ceará, atividade de trabalhadores autônomos, veio no decorrer dos anos 90 se configurando dentro dos planos governamentais de modernização do Estado como meio de inclusão de uma mão-de-obra que a indústria, em seu processo de automação, estava incapaz de absorver. Estando o Ceará se consolidando como lugar turístico, seus símbolos regionais foram aproveitados como meio de construir uma identidade capaz de singularizar o Estado cearense no mercado contemporâneo, transformando-o em um produto a ser vendido. Introduzir o artesão na nova proposta de mercado para o Ceará do “governo das mudanças” significava, para as ações políticas do governo, condicioná-lo a uma aprendizagem comercial, produtiva e estética distante de sua realidade social. A própria velocidade com que o mercado capitalista moderno consome as mercadorias produzidas, exigia um novo ritmo de trabalho e uma organização da produção que alterava a vida cotidiana do artesão. O ambiente de oficina familiar cedia espaço às associações e cooperativas onde a preocupação com o tempo e o objetivo de produzir em grande quantidade lembrava as indústrias modernas. A incompatibilidade do novo mercado com a lógica de produção manual acarretou um desequilíbrio na relação que o artesão tinha com seu trabalho. Seu fazer artesanal deixava de ser espontâneo e passava a significar uma disciplina externa aos seus desejos e à sua intimidade com as obras produzidas. A construção do significado atribuído ao artesanato, que definiu o lugar social dos artesãos encaixados nos planos de modernização do Estado do Ceará, se daria a partir de disputas travadas entre os espaços de resistência constituídos pelos artesãos e as instituições disciplinadoras do Estado. Em meio a essa relação de força o artesão esmerava o fazer artesanal resignificando o lugar de legitimação do artesanato, ao mesmo tempo em que se condicionava a servir ao mercado turístico do Ceará. Esse é o palco de discussão desta pesquisa. Palavras-chave: Identidade. Mercado. Tradição
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