De acordo com Rodrigues (1999), a agricultura brasileira viveu na primeira metade dos anos 90 uma brutal transição. Saiu de um cenário no fim da década anterior caracterizado por inflação alta, país fechado e políticas públicas razoáveis para outro, poucos anos depois, de inflação baixa, país aberto ao exterior, principalmente na agricultura, e estado falido. Nessa caminhada teve perda de renda inédita na história, tanto pela ação governamental (que descasou índices no Plano Collor estourou juros e engessou o câmbio no real), quanto pela desarticulação do setor privado. Duas diferentes tendências ficaram claras nessa transição que ainda não se completou: • de um lado, uma imensa exclusão com milhares de produtores (especialmente pequenos) e trabalhadores rurais perdendo seus empregos e patrimônios, reforçando movimentos sociais que mais tarde se transformariam em políticos; • de outro, uma surda batalha pela sobrevivência, via competitividade. Dois grupos de produtores rurais se embalam nesta onda: os que entraram no Plano Real com dívidas e os que não tinham dívidas. Os primeiros, acudidos por paliativos como a Securitização, o Programa Especial Sobre Ativos (Pesa), o Programa de Recuperação das Cooperativas (Recoop) e outras ações governamentais, esperam por solução definitiva para seus problemas. Os segundos estão fazendo a maior revolução deste século no cenário rural brasileiro. Essa revolução tem três facetas: uma bem evidente, que é a tecnológica, e outras duas pouco mensuráveis, a gerencial e a de modelo. A revolução tecnológica se caracteriza pelo uso do que há de mais evidente em matéria de inovação para o campo: tratores, máquinas e implementos, colheitadeiras de última geração rodando pelas fazendas brasileiras: cultivo mínimo, plantio direto, variedades novas, fórmulas diferentes de fertilizantes e defensivos, transferência de embriões, agricultura de precisão e o uso crescente da biotecnologia, o que equipara nossos produtores aos melhores do mundo. A revolução gerencial é ainda mais importante: administração comercial, financeira, fiscal e tributária são essenciais para o resultado positivo dos agricultores. A gestão de recursos humanos e a gestão ambiental, também. A informação em tempo real e confiável é um instrumento básico para o moderno agricultor, para o gerente contemporâneo. Assim, a propriedade rural toma uma importância fundamental, onde o empresário rural deve usar os conceitos mais modernos de economia, administração, comercialização e finanças para se ajustar às iminentes e rápidas mudanças de mercado. Mas, sem dúvida, a grande mudança está no modelo. Não é mais possível, ou não será no curto prazo, fazer renda no campo vendendo matéria prima para compradores tradicionais. Por mais que se tenha incorporado tecnologia, o mercado já não sustenta a renda rural para o produtor que não agrega valor à sua produção. Esta revolução, a de modelo, é a que exige o conceito de cadeia produtiva de agregação de valor às produções primárias. Os mecanismos clássicos para isto estão à disposição dos produtores: cooperativismo, associativismo, parcerias, alianças estratégicas, marketing, propaganda, industrialização, diferenciação e, todos outros fatores existentes e ainda não explorados adequadamente, e que também precisam ser modernizados.
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